Odair Moniz e os abutres
O racismo e o preconceito é resultado da divisão propagada pelos abutres.
A notícia sobre a morte de Odair Moniz já foi coberta até à exaustão, pelo que não vou descrever nada que já não tenha sido descrito pelos meios de comunicação, nem debater sobre os detalhes que ambas as partes procuram para justificar as suas posições. Nada disso importa pois morreu uma pessoa, e como todas as mortes, é algo a lamentar, quer seja a morte de um cidadão negro, branco ou de qualquer outra raça, isto porque todas as vidas importam.
Portanto, ficará apenas a minha opinião, que por acaso é a opinião de alguém que viveu a vida toda em zonas consideradas problemáticas, primeiramente em Lisboa, até aos sete anos de idade nas chamadas "barracas"; posteriormente no bairro social até aos trinta e um, fruto do realojamento dos moradores das tais "barracas" e; até aos dias de hoje, numa zona considerada complicada da Linha de Sintra, onde me sinto perfeitamente seguro tal como nas zonas anteriores.
Posto isto, penso que tenho algo a dizer...
Realidades diferentes
As forças de segurança nomeadamente a PSP, têm um salário acima da média, no entanto, claramente injusto para as funções que desempenham, sendo que em péssimas condições de trabalho. De certa forma, são discriminados pelo estado relativamente a outros ordenados da função pública, é claramente uma profissão ingrata.
Por outro lado, nos bairros problemáticos a exclusão social é clara e inequívoca, começando pelo realojamento, pois se existe um bairro social, significa que pessoas foram realojadas, e os problemas que existiam nas "barracas" (à excepção das condiçoes de habitabilidade) foram transferidas para os prédios.
A inclusão deveria começar no realojamento, não da forma actual que consiste na construção de urbanizações exclusivas para o efeito, perpetuando os problemas existentes. Esse realojamento antes deveria ser inclusivo, distribuindo as famílias pelas várias freguesias do respectivo concelho, lado a lado com a classe média, acabando assim com a segregação das comunidades imigrantes mas também de famílias portuguesas pobres ou seja, a segregação da classe baixa.
É provável que a classe média (na qual residem as forças de segurança) não gostará muito desta ideia, o que justificará as reivindicações destas minorias. Por outro lado, é quase que certo que as comunidades imigrantes também não vão gostar muito da ideia de se dispersarem pela cidade, mas inclusão é isto.
De onde vem a problemática?
Quero clarificar que a problemática não está no realojamento, o realojamento é a perpetuação da problemática que já existia nas "barracas".
Para perceber isto há que entender como surgiram os bairros de "barracas" e não cair nas malhas da ignorância e acreditar que não existem portugueses brancos nesses mesmos bairros.
Quando muitos portugueses emigraram para França principalmente, houve outros portugueses que praticamente com "uma mão à frente e outra atrás" vieram para Lisboa, porque a única opção era escapar à miséria. A minha Mãe estava nesse lote juntamente com os meus tios e avós, que desceram de Viana do Castelo para se instalarem em Lisboa num bairro de "barracas".
Portanto, um dos problemas é a pobreza, que leva os jovens ao abandono escolar para sem qualificações, trabalharem em precariedade no sentido de contribuir para os rendimentos da família, e isto torna-se um ciclo de geração em geração.
A criminalidade é outra consequência, roubos são motivados pela pobreza, havendo dinheiro para comprar, deixa de haver lugar para o roubo. Admito que é uma visão simplista, existindo variantes de sobra para suportar bem como refutar esta afirmação. De qualquer forma, a pobreza é um factor chave.
Dentro da criminalidade existe o tráfico de drogas, e a droga entra nos países através do crime organizado, mas o crime organizado definitivamente não está nestes bairros, mas ainda assim o tráfico vai parar sabe-se lá como a estas zonas pobres que anseiam por uma vida melhor.
Há um pormenor que é necessário entender: O crime organizado precisa destas zonas mais do que estas zonas precisam do crime organizado.
As drogas entraram uma vez nestes bairros, e isto só precisou acontecer uma vez num passado não muito distante para que o ciclo se perpetue de geração em geração, tudo isto com a ajuda da segregação da parte do estado; da comunicação social e principalmente da música urbana, especialmente o Hip-Hop que tem sido brutalmente desvirtuado e assim tornando-se numa ferramenta impulsionadora para a autodestruição desta juventude.
Esta é uma verdade que não há como negar.
Vamos aos tumultos
"Coitadinhos estão revoltados". Não, não é esta a minha opinião. Na verdade eu reprovo veementemente estes actos, pois pessoas que nada têm a ver com o sucedido estão a ser gravemente prejudicadas e isso é inadmissível.
A "drena"
Uma das minhas teorias para esta escalada da violência é a "drena", ou mais correctamente, a adrenalina que estas situações causam.
A única ocorrência que acredito ter sido de genuína revolta foi a do Bairro do Zambujal onde residia Odair Moniz, pois os autores/moradores certamente lhe eram mais próximos, de qualquer forma não há como justificar tais actos.
Não acredito que a motivação tenha sido a mesma nos outros bairros, isto porque a comunicação social cuja a única preocupação são as audiências, transmitiu até à exaustão os tumultos, tal e qual como transmitiram o que aconteceu em França mais que uma vez.
A partir daqui, certos residentes de outros bairros encontraram motivação para fazer igual mas não necessariamente por revolta, só consigo ver esta justificação como um subterfúgio para poderem fazer o mesmo.
Incitação nas redes sociais
Foi dito que estes actos estavam consertados a partir das redes sociais, o que levou as autoridades a deduzir que havia uma organização por trás destes tumultos, onde para além das convocações, houve lugar a chamadas para falsas ocorrências com o objectivo de dispersar as forças de segurança.
Não nego que houve convocações nas redes sociais e também não nego que houve chamadas para falsas ocorrências. Mas quanto a todos os tumultos estarem consertados, tenho as minhas dúvidas.
Há que haver uma certa atenção às convocações nas redes sociais, pois qualquer um as pode fazer, desde bandidos que querem fazer tumultos, bem como extremistas de direita e anti-imigração a quererem que mais disto aconteça, com o propósito de retirar proveito de variadas formas, sejam elas eleitorais ou de influência.
Os abutres
Os abutres a que me refiro são todos aqueles intervenientes que instrumentalizam as causas, incluindo esta, seja da parte das forças de segurança, seja da parte das minorias, e podemos na minha óptica, identificar os quatro principais: Bloco de Esquerda, Chega, Grupo 1143 e SOS Racismo.
É notória a forma como os partidos políticos citados falam o que o seu público alvo quer ouvir, mostram-se solidários mas na verdade estão distantes da realidade do país em que vivem, logo esse sentimento não pode ser real, querem apenas mobilizar e levar avante as suas agendas ideológicas, é por isto que os chamo de abutres.
E é o mesmo para as outras duas entidades, embora não sendo partidos políticos, também os seus frutos são a divisão. De um lado Mário Machado e do outro Mamadu Ba, ambos hipócritas e ambos racistas. Por mais que tentem defender as suas causas, tudo neles os denunciam como tal.
Existe um quinto abutre que é a comunicação social, cuja sua obsessão pelas audiências apenas amplia este e os demais problemas.
Solução
Temos de ver com olhos de ver que:
- Os problemas reivindicados nas chamadas zonas urbanas sensíveis são mesmo reais, mas são reais tanto para o preto como para o branco;
- Também os polícias morrem em serviço, que nas suas vidas pessoais sem farda, têm os mesmos problemas como os demais cidadãos, e que também eles são esquecidos por quem governa;
- Mamadu Ba e Mário Machado alimentam-se deste problema, e o fim desse mesmo problema é o fim do papel destes dois indivíduos, suas organizações e todas as demais personalidades similares.
A vida de imigrante não é fácil para ninguém. O suposto é um país governar para os seus cidadãos mas também cuidar dos imigrantes. É normal que a vida seja mais simples para o cidadão português do que para o estrangeiro que reside em Portugal. Mas quando o filho do estrangeiro é cidadão português, não há uma lei que seja de uma forma para o português de "gema", e de outra para o filho do estrangeiro.
Não quero com isto dizer que não existe racismo ou preconceito em Portugal, no entanto é necessário entender que o racismo e o preconceito é resultado da divisão propagada pelos abutres.
Tudo isto só será perceptível quando tentamos por um momento esquecer que somos Brancos ou Pretos; Europeus ou Africanos; de Direita ou de Esquerda.