Em defesa do Textus Receptus
Isto nada tem a ver com fundamentalismo, mas sim com uma questão de apologética, a defesa da fé.
Num artigo anterior, escrevi sobre algumas versões da Bíblia baseadas na tradução de João Ferreira de Almeida, no qual mencionei as seguintes traduções:
- Almeida Revista e Corrigida
- Almeida Revista e Atualizada
- Almeida Corrigida Fiel
- Almeida Edição Contemporânea
- Nova Almeida Atualizada
- Almeida Século 21
No entanto, faltou indicar uma tradução que cumprisse dois requisitos em simultâneo, sendo o primeiro, a fidelidade ao manuscrito original do tradicional Textus Receptus (o texto a partir do qual foram feitas as primeiras traduções do Novo Testamento para línguas europeias), sendo o segundo requisito, a necessidade de uma linguagem actual, menos arcaica.
Das versões citadas, apenas duas são fiéis a este texto, sendo elas as Bíblias Almeida Revista e Corrigida e a Almeida Corrigida Fiel porém, a linguagem destas versões é arcaica.
A única versão citada que oferece uma linguagem actual e alguma fidelidade ao Textus Receptus, é a Bíblia Almeida Edição Contemporânea, que apesar de ser baseada no Textus Receptus, é também fortemente influenciada pelo Texto Crítico, ao ponto de ter omissões até de versículos inteiros, o que põe em causa a sua fidelidade ao texto tradicional.
Porquê preservar o Textus Receptus?
Isto nada tem a ver com fundamentalismo, mas sim com uma questão de apologética, a defesa da fé.
Concordo que numa tradução se devem valorizar e serem consultados os manuscritos mais antigos, mas há que ter cautela pois existe prova de que um manuscrito mais antigo não significa ser melhor, como podemos comprovar no Evangelho de Marcos capítulo 1 versiculos 1 e 2:
Princípio do Evangelho de Jesus Cristo, Filho de Deus; como está escrito nos profetas: Eis que eu envio o meu anjo ante a tua face, o qual preparará o teu caminho diante de ti. (Textus Receptus)
O princípio do evangelho de Jesus Cristo, o Filho de Deus, conforme está escrito no profeta Isaías: “Vejam, enviarei o meu mensageiro à sua frente; ele preparará o seu caminho”. (Texto Crítico)
Nestas duas passagens temos uma citação/profecia do profeta Malaquias, e não do profeta Isaías:
Eis que eu envio o meu mensageiro, que preparará o caminho diante de mim; e de repente virá ao seu templo o Senhor, a quem vós buscais; e o mensageiro da aliança, a quem vós desejais, eis que ele vem, diz o SENHOR dos Exércitos. in Livro de Malaquias
Qual a vantagem de considerar certos manuscritos mais antigos como os melhores, sendo que encontramos estes erros apontados pelo Antigo Testamento, e ainda assim ser dada a prioridade a este texto num processo de revisão de uma tradução, apenas por ser mais antigo?
Existe também outro problema, pois certos manuscritos mais antigos, de forma subtil tentam diluir a deidade de Cristo (1ª Timóteo 3:16), bem como o conceito de Trindade (1ª João 5:7), o que choca de frente com os princípios base da fé cristã.
E como se não bastasse, já foi lançada a ideia de uma nova Bíblia ser escrita por inteligência artificial. Tem de haver limites.
Por todos esses motivos e mais alguns, temos o dever de preservar as traduções tradicionais da Bíblia Sagrada baseadas no Texto Massorético para o Antigo Testamento, e no Textus Receptus para o Novo Testamento.
Conclusão
É possível obter uma tradução algo fiel ao texto tradicional e com linguagem actual. É no entanto necessário deixar para trás a tradução de João Ferreira de Almeida.
Após toda a minha pesquisa (até onde me foi possível) de comparação das traduções Bíblicas, foi na tradução para o português da Bíblia King James que encontrei uma versão baseada no Textus Receptus e com linguagem actual, a Bíblia King James Atualizada.
Esta edição, apesar de baseada no Textus Receptus, tem também uma forte influência do Texto Crítico, mas menos que as versões mais modernas, pois apesar de também conter algumas omissões, não omite versículos inteiros, não dilui a deidade de Cristo no entanto, não é clara a respeito da Trindade.
Creio ser a melhor escolha possível, porque na verdade, não existe nenhuma tradução bíblica com linguagem actual que não seja (no mínimo) influenciada pelo Texto Crítico.
Portanto, para quem quer preservar o texto tradicional utilizando versões da bíblia para esse propósito, eu pessoalmente recomendo duas traduções:
- Estudo aprofundado: Bíblia Almeida Corrigida Fiel, cuja fidelidade implica uma linguagem arcaica.
- Leitura diária: Bíblia King James Atualizada, cuja modernização implica a influência do Texto Crítico.
São as versões que utilizo e recomendo.